quarta-feira, 12 de abril de 2017

A louca das sementes

Não sei desde quando eu me tornei a louca de muitas coisas. Mas certamente a aquisição do minhocário foi um ponto de referência para muitas das minhas esquisitices. Adoro olhar as bichinhas se mexendo e ver como estão gordinhas. Por uma destas conspirações universais, há pouco construíram uma composteira comunitária numa praça pública a duas quadras daqui de casa. Três voluntários de diferentes partes do mundo que arregaçaram as mangas num terreno abandonado, transformando-o em uma deliciosa área de convívio e nos ensinaram muito sobre aproveitamento de materiais. Assim, o resto dos vegetais que não podia ir na minha composteira devido à acidez ou tamanho excessivo agora é todo aproveitado para virar adubo.
Há alguns dias eu assisti o filme Nise, que retrata o trabalho da Dra. Nise Silveira, médica que revolucionou o tratamento na psiquiatria brasileira. Em uma das cenas do filme, recordei com clareza o trecho de um de seus livros, que mencionava um rapaz que dizia algo do tipo: O homem é que diz que o lixo é lixo.  Só isso para mim já parecia interessantíssimo de se escutar. Mas ele ainda complementa, com sementes nas mãos: Semente não é pra jogar no lixo. Semente é para ser plantada. E, obviamente que eu, imediatamente abracei a causa e me tornei a louca das sementes. 
Eu já vinha notando como as sementinhas germinam com facilidade ali no meio do composto orgânico, dentro de uma caixa úmida sem luz e resistem por semanas na expectativa de um dia, quem sabe, conseguirem um lugarzinho ao sol. Depois, resolvi jogar num canto qualquer do quintal um miolo de tomate. Sem nenhuma rega, sem revolver a terra, sem adubo, nasceram vários brotos que estão crescendo autônomos independentes da minha vontade. Então decidi respeitar as sementes. Mais do que dar para as minhocas, estou guardando e semeando pelo bairro. Claro que a imagem de uma balzaquiana andando pela rua com uma cumbuca de sementes de mamão, jogando para a direita e para a esquerda, como se distribuisse milho aos pombos deve causar bastante estranhamento. Mas se para alguns, custou a liberdade defender uma causa assim, já não me importo parecer um pouco diferente. 

2 comentários:

  1. hahahaha.. que delícia!!! Eu iria com você distribuir sementes pelos terrenos aleatoriamente... seríamos duas... imagine os olhares! kkkkk

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  2. Deixando sementes por aí... cumpre-se o propósito de ter vindo ao mundo!

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